Ela



 Revoltada, era o que diziam. Ingrata. Depressiva. Maldosa. Grossa. Feia. Vadia, só de vez em quando. Sem jeito e sem futuro. Sem reação. Sem sina. Sem coração. Mas só ela sabia o quanto estava assustada. Com medo de não ser o suficiente, nem por um minuto. Com medo de machucar alguém, ou fazer isso ainda mais. Com medo de que não gostassem dela, e sentindo repulsa de si mesma por isso. Com medo de ser só um monte de átomos e palavras vazias. Com medo de ter um gosto ruim. Com medo de ser como ele e não sair nunca mais dali. Com medo de que vissem o quanto era ou parecia desprezível. Com ódio daquela situação bizarra e mais algum medo de admitir algo, só não sabia ao certo o que. Ela andava pelas ruas banhadas de Sol tentando achar uma solução, mas tudo parecia ter ido embora muito antes dela decidir se mudar. Ela já podia fazer uma lista de quais não eram as soluções, poucos nomes, poucos sentimentos e muita confusão. O relógio fazia tic-tac, tic-tac, tic-tac e mais parecia uma bomba, mas a bomba de verdade estava dentro dela, bem ali no meio do aperto, bagunçando as ideias. Sentia tanta raiva o tempo todo. Tanto “e se” por nada. Queria jogar tudo da alma no vento e depois ir junto. Queria que esse texto fizesse só um pouco de sentido, mas ela sabia que não era. Sabia que a vida de ninguém é fácil. Ela sabia que precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa. Só que agora, ela não sabe de mais nada.



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