Sim, isso foi pouco antes de eu aprender a me deleitar na minha própria solidão. Deitei a cabeça no seu ombro e me perguntei “por que tão longe?” enquanto nossos dedos se entrelaçavam e eu encarava as listras rosa e roxas das suas meias ¾. Eu estava perdido e esse clichê gigantesco me guiava pelas prateleiras de livros Cult, pelas coleções da Folha sobre arte em bancas de jornal e pelas bandas cujas músicas embalaram nosso romance pequeno-burguês. Eu te queria porque você era feito um portal pros meus devaneios mais loucos, porque mesmo longe das garrafas de vodka- que a gente evitava nas festas, afinal, éramos tolos demais pra negar de todo aquilo que não nos apetecia- você me fazia viajar dentro do mesmo espaço-tempo de sempre. Seu cabelo castanho “sem graça” parecia aquecer tudo ao redor e quando o vento cortante me fazia tremer, você não me segurava. Porque nós dois sabíamos a importância de cair. Toda vez que eu defendia Adam Smith e você refutava meus conceitos dizendo que qualquer propriedade é um roubo, eu conhecia algo novo de novo. Eu queria poder te levar pra longe, mesmo sem saber o que longe significava e por isso continuava me perguntando. O tempo parecia escorrer pelas minhas mãos e eu era incapaz de reter qualquer coisa que não fosse aqueles sentimentos mofados no fundo da minha geladeira emocional. Você sabe que eu nunca fui bom em jogar fora, sempre temi o desperdício consciente, e então finjo demência toda vez que quero gastar meus segundos com coisas sem valor. Quando foi que o utilitarismo virou peso e medida? Tá, eu sei. Não repete, não. Deixa a pergunta no ar porque dessa vez eu quero fazer diferente. Dessa vez eu quero me deixar pender quase que totalmente e, mesmo com o olhar crítico sobre aquilo que vier a acontecer, simplesmente permitir que aconteça.






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