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Mostrando postagens de abril, 2020

Transmutare

- A Lua tá linda, olhá lá. - Ah, ontem também tava.  E refletindo no trem, enquanto as mudanças mostradas pelo constante movimento da janela se faziam de minhas confidentes, percebo que não. Não era aquilo que queria dizer e quero montar uma errata pras minhas atitudes dessa noite. Sei que dizem que o momento em que algo acontece é importante e que o que acontece é um constitutivo que não se reescreve. Mas esse momento de agora também existe e, portanto, pode ser considerado eterno e constitutivo de.             Pega minhas reiterações como atitude do agora.    A Lua tá linda sim, amor, ontem ela me disse que a beleza mostrada pra mim é a mesma que faz morada em cada pormenor do seu corpo. E aquela blusa verde em perfeita harmonia com o cabelo caindo nos olhos meio inchados.  - Você chorou hoje?      E quero te levar pra algum lugar onde o tempo passa, mas a gente passa junto e esse lugar é aqui.  Me fala da vida. Das suas percepções.  Me dá conselho

conto - Despedaços

Parte 1 Um começo Seguro forte o guarda-chuva, sentindo esbranquiçar os nós dos dedos, se eu me machuco, doem menos os cacos de vidro espalhados aqui dentro, aqueles que não consigo encaixar de jeito nenhum e ninguém me disse que pessoas são feito tétris e talvez não sejam. Talvez eu precise mudar meus métodos e as calçadas parecem escorregadias demais. Viro as esquinas quase que inconscientemente e me percebo esperando ver uma chance em cada tijolo meio que mal colocado. Em dias assim, em que o sol aparece sem ser convidado e tinge o céu e tinge a vida aqui em baixo em cores quentes, eu desejo saber andar de bicicleta porque então poderia me sentir avançando e cortando o infinito enquanto ele me corta de volta, me dividindo em novas configurações. O infinito é o vento que me abraça sem me tocar por mais que menos de um segundo.

pela janela do trem

Coloco meus braços ao redor do teu pescoço, apoio meu rosto no teu. Fecho os olhos e me permito soltar, alma, respiração. Imagino os traçados do arco íris que contorna tua pupila. Se eu pudesse, te engoliria. Como não posso, me apaixonei. Entre os versos de uma canção mal escrita perdidos na tua gaveta de meias, entre suas mãos contornando minha cintura enquanto a aurora tinge a janela do trem. Ele continua a andar, impassível. Sem se perguntar quantos infinitos cabem na imensidão que seus lábios contornam, sem se questionar o que "suficiente" significa. Eu me perco e me reencontro um milhão de vezes, antes que você perceba que algo não vai bem. Antes que você se dê conta. Calculo o diâmetro do abismo que nos separa enquanto nos corpos, colados, tentam desmentir as verdades que o silêncio insiste em gritar. Você afunda seu rosto no meu ombro, soluça de levinho e se deixa pender. Eu te seguro e lembro de todas as vezes que a janela do teu quarto assistiu minha boca marcar sua