Pedro andava com medo dos próprios pensamentos. Havia esquecido de confiar em si mesmo, de se perdoar. Parece besteira para quem vê de fora, mas dentro dele tudo era sua culpa. A mãe que chorava toda noite e os pesadelos cada vez piores. De dia, Pedro odiava tudo, todos e a si mesmo. Fazia maldades e exigia o perdão. Mas esquecia de dar ele mesmo. As freiras do colégio tinham medo dele, o diretor tinha ódio, os amigos se afastaram. Tudo bem, nenhum deles sabia. Pedro também desejava não saber como é. Quando subia no telhado da escola, se imaginava fora de si mesmo, sem dor, sem as cicatrizes que rodeavam seu tronco. Ele chorava aqueles choros de soluço, se sentia fraco demais pra aguentar tudo aquilo. Pensava em pular, em como seria bom deixar tudo pra trás. Nessa hora ele limpava o rosto com força e corria de volta pra rua, pra longe. Ele se considerava covarde por não conseguir se deixar pular, quando na verdade isso era a maior coragem do mundo. Numa tarde qualquer, Pedro encontrou um homem na rua. Um homem que poderia ser ele mesmo, se não fosse pelas rugas nos cantos dos olhos e pela felicidade que iluminava seu rosto enquanto olhava uma garotinha pequena que se lambuzava com um sorvete. Havia uma mulher do lado do homem, bonita e alta. Ela encara Pedro e arregala os olhos. Logo o homem o olha também. Pedro se apoia no poste pra não cair, mas quando o homem ameaça ir até ele, Pedro se vira e corre. Corre furiosamente até chegar em casa. Ele abraça a mãe e nem percebe que está chorando, seus soluços se misturam num Abraço forte, único, que parece juntar cada pedacinho quebrado dos seus corpos.
"Me perdoa, filho.", ela olha pra ele diz. Pedro só consegue balançar a cabeça que sim, que tudo bem. Algo dentro dele parece se desfazer ali mesmo e é a melhor sensação do mundo. "Você ainda é meu menino preferido." Depois de todos os gritos, de todos os erros, a violência e a raiva, Pedro entende e sente o que é amor e perdão. E que isso vem dele, de dentro pra fora, pra mãe, pra si mesmo, pro mundo.



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