Mudando o rumo da própria vida

Acho que de tanto te imaginar, te pintar em telas, te pixar na rua, você apareceu na minha frente. Em carne, osso e realidade. E eu que já jurava calmaria eterna. E eu que já tinha desistido de sonhar. De sentir. Você esqueceu de bater na porta, entrou e deu um chute no sofá da sala, bagunçou a cama, quebrou os pratos e ligou o som. Me fez dançar no meio do caos e esquecer da dor. Você me girava e eu esquecia os cacos espalhados pelo piso. Você me segurava forte na cintura e eu nem ligava pras chamadas na secretaria eletrônica. Fui avisada mil vezes, mas o seu perfume era mais gostoso que qualquer conselho. Sua voz era mais bonita. Seu sorriso apagava mágoas. Só quando você batia a porta e eu ia pra varanda que me permitia sentir tudo. Que me passava pela cabeça que talvez esses machucados tivessem dono. Esse vazio tivesse nome. O seu. Eu queria me perder, esquecer e sentir o lado bom. Meu deus, como eu queria que você realizasse meus sonhos. Bobagem. Você sumia por dias, eu checava até a caixa de correio. Angústia. Que pecado, acho que eu te amei pela loucura. Pela embriaguez. Pelo batom vermelho que deixei borrado na sua camisa. Eu me sentia ousada por permitir que você me machucasse. Mas não podia sentir dor. Depois de te ter, como viver sem você? Coloquei minha felicidade nas suas mãos e nem me dei conta de que isso me tirava o gosto de viver. O que eu era para você? Além de um corpo na cama, de uma saída da rotina. Que escapismo. Meu. Seu. Foi. Até hoje. Até hoje de manhã quando me olhei o espelho e não me vi. Eu era uma sombra da gente. Enlouqueci. Terminei de quebrar o que você tinha deixado inteiro. Peguei as chaves do carro, a foto de casamento dos meus pais e fui embora. Não sei se isso foi fugir ou lutar. Acho que um pouco dos dois. Você nem se deu conta. Como o amor pode viver enquanto pende tanto pra eu lado? Eu amei sozinha. Amanhã é quarta feira e eu não tenho mais endereço. O horizonte é meu destino e a vontade que apareceu feito magia é meu mapa.