Transmutare
- A Lua tá linda, olhá lá.
- Ah, ontem também tava.
E refletindo no trem, enquanto as mudanças mostradas pelo constante movimento da janela se faziam de minhas confidentes, percebo que não.
Não era aquilo que queria dizer e quero montar uma errata pras minhas atitudes dessa noite. Sei que dizem que o momento em que algo acontece é importante e que o que acontece é um constitutivo que não se reescreve. Mas esse momento de agora também existe e, portanto, pode ser considerado eterno e constitutivo de.
Pega minhas reiterações como atitude do agora.
A Lua tá linda sim, amor, ontem ela me disse que a beleza mostrada pra mim é a mesma que faz morada em cada pormenor do seu corpo. E aquela blusa verde em perfeita harmonia com o cabelo caindo nos olhos meio inchados.
- Você chorou hoje?
E quero te levar pra algum lugar onde o tempo passa, mas a gente passa junto e esse lugar é aqui.
Me fala da vida.
Das suas percepções.
Me dá conselhos sim.
Se derrama.
Me afoga.
Eu crio guelras e te canto a sua Kleos feito as sereias de Ulisses.
Vai embora, atravessa a catraca e me leva junto porque já não estou mais aqui.
Estremeço com o medo de não te deixar ser quem você é por aqui num sentido de te impedir de falar sobre. As coisas cotidianas ou suas angústias. Me segreda o que quer que seja como as palavras que falamos pras paredes.
E nós nos perdemos porque ser é se desmontar e depois ficar confuso com qual peça encaixo onde. Seu tetris é a coisa mais linda.
Sua respiração no meu pescoço é diferente e o enebriar que vem do seu toque vem apenas dele. Você é único e sei que essa não é sua angústia e então. Enquanto abraço um amigo no trem, percebo. Amor, não vou deixar de ser avoadamente expansiva, preciso disso pra que essas guelras tenham efeito e eu sei que também te afogo. Só que, como nas metamorfoses de Ovídio, amar nos faz transmutar. transmutare.
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