pela janela do trem

Coloco meus braços ao redor do teu pescoço, apoio meu rosto no teu. Fecho os olhos e me permito soltar, alma, respiração. Imagino os traçados do arco íris que contorna tua pupila. Se eu pudesse, te engoliria. Como não posso, me apaixonei. Entre os versos de uma canção mal escrita perdidos na tua gaveta de meias, entre suas mãos contornando minha cintura enquanto a aurora tinge a janela do trem. Ele continua a andar, impassível. Sem se perguntar quantos infinitos cabem na imensidão que seus lábios contornam, sem se questionar o que "suficiente" significa. Eu me perco e me reencontro um milhão de vezes, antes que você perceba que algo não vai bem. Antes que você se dê conta. Calculo o diâmetro do abismo que nos separa enquanto nos corpos, colados, tentam desmentir as verdades que o silêncio insiste em gritar. Você afunda seu rosto no meu ombro, soluça de levinho e se deixa pender. Eu te seguro e lembro de todas as vezes que a janela do teu quarto assistiu minha boca marcar suas curvas. E agora, aqui estamos, apoiadas uma na outra como se o mundo estivesse em escombros. Como se pudéssemos nos salvar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Agora eu era herói e meu cavalo só falava inglês...

Resenha - Jogos Vorazes