Eu sem você e o último dia do ano



   31 de dezembro.
 O céu azul, sem nem uma luzinha solitária, tão escuro que poderia ser preto. Mas desde pequena me ensinaram que faz mal dizer que o céu está preto. Nunca entendi direito o que significava ou o porquê disso, mas afinal, existiam tantas coisas que eu não conseguia entender. Essa era apenas a primeira da lista.
 Eu estava embaixo daquele céu, eu e meu vestido azul e branco. Ah, paz. E o azul, realização. Era isso o que eu queria, certo? Errado. O que eu queria mesmo era um coração novo. Mas não se pode desejar isso de Ano Novo. Ah, e também não adianta pedir pro Papai Noel. Acreditem, eu tentei. Mas me parece que não é assim que as coisas funcionam por aqui. Ou em qualquer outro lugar.
 É, meu velho amigo do peito, parece que somos só nós. Nós dois contra o mundo, igualzinho antes, lembra? Vem cá, nada que um curativo não resolva.
 Andam dizendo por aí que nós fomos meio maus ultimamente, que magoamos as pessoas. Acredito que seja verdade, acredito mesmo, afinal, eu vi. Mas nós não estamos no melhor dos estados, não é? Engraçado pensar que num passado recente talvez nem ligássemos para coisas assim. Engraçado pensar que num passado recente eu não sabia de nada disso. Cacete, que dor infernal. Juro que se as coisas continuarem assim, tão sem cor, eu vou embora. Vou mesmo, e volto logo depois com três latas de tintas Coral. Que vou jogar sem dó em todas essas paredes. Sem medo de me sujar. Sem medo de ficar feio. O feio nem é tão ruim assim. Quase sempre a gente nem sabe o que pode ser bom de verdade. Suspiro. Às vezes esse é o presente/desejo que eu tanto queria.



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