Short rasgado, janela meio aberta, garganta apertada e olhos se fazendo de mar. Olha ao redor e repudia o quanto um quarto consegue ficar bagunçado, tenta respirar fundo, colocar ordem nos pensamentos, mas nada parece fazer muito sentido. Prende o cabelo sujo e marca consigo mesma de lava-lo às 6, pensa em escrever outra carta, uma poesia, ou um conto, daqueles com fadas e bruxas. Daqueles com guarda roupas que viram universos paralelos e chapéus que falam, talvez com alguém que saiba voar só de ter pensamentos felizes, ou alguém que concorde um sair pela janela do quarto com um garoto que não sabe o que é 'beijo'. Talvez o mundo real fosse o faz de conta dela, talvez sua razão tivesse se escondido em algum livro que agora está empoeirado no fundo da gaveta. Quem sabe ela não se perdeu em um daqueles labirintos que fazia só pra se divertir? Ela ri só de pensar que talvez, só talvez, em uma tarde qualquer, sentada na janela daquela casa à beira mar, com aquela maresia batendo no peito, ela consiga perceber que tá tudo bem, que passou. Tipo aquele alívio que sentia andando pela rua e chupando sorvete depois de tomar vacina. A certeza que o pior já passou. A paz de poder respirar sem sentir vergonha de si mesma ou culpa pelas manchas de tinta colorida que deixou espalhada pelas paredes alheias, ela jura que estava tentando só fazer um quadro bonito, daqueles bem lindos que dá felicidade só de olhar. Ela puxa a manga da camiseta, morde o lábio e seca o rosto só pra molhar mais um pouquinho depois. Apoia a cabeça na janela e recita baixinho aquele poema, fingindo que é pra si mesma, enquanto cada célula de si pede em segredo para que ele possa ouvir. Sempre teve medo de deixar ir embora, segurava forte o que tinha nas mãos, lembrando que sua vó sempre dizia que se abrir mão, o vento leva. Tentava guardar pra si cada momento, cada olhar meio torto, só pra sentir de novo. Por favor, só mais uma vez. Só que tudo que era bonito escapava pelos seus dedos e ia ficando pra trás, acontece, né? 



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