Pra você

Eu até tentei te procurar de novo, juro, mas é que a vontade saiu pela janela e eu me encontrei vazia, de frente pra uma tela buscando coisas que, sinceramente, eu não queria ver. Sempre tive uma tendência boba à tristeza, quando pequena, chorava quase todo dia. É, eu lembro. Era um aperto no peito, um nó na garganta, enquanto o tio da pirua virava esquinas aleatórias ou quando a noite caía devagarzinho e Chaves passava na televisão. Minha mãe me olhava e perguntava por que, confusa. Eu nunca soube responder, parece bobagem. Hoje, numa sala cheia de gente, quero correr, fugir, voltar pra casa e respirar fundo com a cabeça apoiada na janela. Eles riem tanto e eu só não me encaixo, as palavras do livro se embaralham de leve, mas dá até um alívio chegar tão perto da realidade de outro alguém. Enquanto me fazia essa confusão, fui me apaixonando pelo mar, por suco de laranja sem açúcar, pela escrita de Clarice Lispector, pelo pensamento de Nietzsche, teorias e frases que não entendia de primeira, por sorrisos fáceis e noites viradas, onde o som era mais alto que meus pensamentos embaralhados e uns porres me ajudavam a esquecer esse teu sorriso sincero que eu nunca senti, mas é que maginei tanto a gente, foram músicas ouvidas no carro, mãos dadas na beira da praia e depois embaixo dos lençóis enquanto a luz da manhã entrava devagarinho pela janela e você mexia no meu cabelo. Culpa dessa mania de querer demais, de ir até o fim em qualquer chance meio torta de felicidade. Acho que, por isso, você me encontra assim, tão fácil. Eu me mostro, mesmo que sutilmente, porque morro de medo de me esconder e deixar de fazer existir uma história eterna na intensidade um um tempo qualquer. Morro de medo de me trancar em mim e me encarar, só um espelho meio sujo não é capaz de mostrar todos os vértices de alguém. Eu nunca me vi, mas tenho mania de me despir a alma pra quem tá só de passagem. Me fiz uma daquelas promessas, que o vento leva, mas o coração guarda e cobra um pouco depois. Da próxima vez que esses teus olhos de maresia me encarassem, iria te olhar e rir um pouco cínica, pra depois continuar meu caminho, completa. Pois percebi que não preciso mais juntar os cacos de sentimentos que ficam no caminho. Vida curta, mundo infinito demais pra isso. Mesmo assim, quando você me encontra como quem se esconde e diz que ainda procura minhas palavras, só consigo ficar perplexa demais pra fazer qualquer outra coisa além de te achar patético. Logo eu, que já te achei tão lindo. Você poderia ter muito mais, ser bem melhor, mas tudo bem. Eu às vezes também escolho o mais medíocre. Tipo te escrever, de novo.



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